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13/01/2021

Ballet é para todos

Pelo teto das nossas lojas é óbvio dizer que amamos ballet clássico, né? Amamos também o fato de ser uma dança super democrática, na qual todos podem se arriscar em fazer aulas para se apaixonarem. Para dançar ballet você não precisa ter começado desde a infância ou ter um corpo super atlético, isso tudo é mito. E, para quebrar esses mitos, batemos um papo descontraído com a bailarina, figurinista, professora e digital influencer, Juliana Meziat.

Vem com a gente!

Ela conta que, ainda criança, foi matriculada nas aulas de ballet e nem imaginava que aquela atividade se tornaria sua profissão no futuro. Um dia, pulando e brincando no gramado do clube, uma moça reparou em Juliana e foi conversar com sua mãe, dizendo que as pernas e pés da menina eram muito bons para o ballet e que ela deveria tentar ingressar na escola de dança do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Essa pessoa era, ninguém mais, ninguém menos, que a primeira bailarina do Theatro na época. Foi assim que Juliana fez o teste e ingressou na Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, aos oito anos. Nove anos depois, ela concluiu o curso de formação. Após sua formatura foi aberta uma audição para o corpo de baile do Theatro Municipal e ela passou, integrando a Companhia por seis anos. Assim começou a sua trajetória profissional, que ainda traria muitas surpresas.

JR: Desde criança você sabia que era isso que queria fazer para o resto da vida?

JM: Não. Quando pequena nunca tive o sonho de dançar, eu gostava das aulas, mas não era um sonho. Até porque nunca fui uma daquelas crianças prodígio, a melhor aluna da turma. Meu início da Escola Maria Olinewa foi difícil justamente porque eu não tinha o mesmo biotipo das alunas, mas isso nunca me incomodou. Quando eu tinha uns 12/13 anos minha percepção mudou e decidi que queria fazer aquilo como profissão, passando a me dedicar totalmente a isso.

JR: Apesar do amor pelo ballet clássico, você também teve uma longa experiência no contemporâneo, certo? Como isso aconteceu?

JM: Sim! Com 15 anos coloquei na cabeça que meu sonho era fazer parte do Grupo Corpo, uma Companhia de Dança Contemporânea Brasileira, com reconhecimento e prestígio nacional e internacional, criada em 1975, em Minas Gerais. Ainda na companhia do Theatro Municipal participei de uma remontagem de um ballet com o coreógrafo e os ensaiadores do Corpo e conheci essas pessoas. Depois do período do Municipal, surgiu a oportunidade de realizar o meu sonho. Foram oito anos dedicados à dança contemporânea e uma experiência incrível em poder dançar em muitos palcos e lugares diferentes, como França, Alemanha, Luxemburgo, Edimburgo, Nova Zelândia, Islândia, Taiwan, Hong Kong e até no Alasca!

JR: Quando saiu de lá, chegou a dançar em outra Companhia?

JM: Não, eu saí e fui fazer faculdade de figurino e indumentária. Minha mãe sempre teve confecção e esse era um assunto que me atraía. Pensava que poderia ser uma alternativa à seguir depois de parar de dançar profissionalmente.

JR: Nessa época você já pensava em se tornar professora?

JM: Sempre gostei muito da parte de remontagem de ballet, então eu tinha uma vontade de ser ensaiadora de Companhia, mas eu sabia que seguir esse caminho me faria continuar trabalhando em Belo Horizonte e eu tinha planos de voltar para o Rio de Janeiro. No Grupo Corpo cheguei a dar algumas aulas para uma turma de ballet amador. Um dia, por acaso, surgiu a proposta para dar aula de ballet clássico para adultos, no Centro de Movimento Deborah Colker. Eu tinha acabado de ter meu primeiro filho, que na época tinha uns 10 meses, e aceitei o desafio.

JR: E como foi essa transição de carreira?

JM: Na época eu estava voltando à ativa depois da gravidez e tocava uma marca de fantasias, mas nunca tive o perfil para ser empreendedora, então resolvi arriscar nessa oportunidade. No início peguei poucas turmas, com pouquíssimos alunos e fui entendendo o novo universo. Cheguei a dar uma parada de seis meses para voltar a dançar, mas senti muita falta da sala de aula. Em 2013 voltei e resolvi focar na minha formação como professora, porque queria que realmente virasse uma especialidade. Eu me encontrei dando aula.

JR: Foi difícil dar aula especificamente para adultos?

JM: No começo foi um pouco difícil de me adaptar, tudo era muito novo no ballet adulto. As escolas estavam abrindo turmas porque viam que existia demanda, mas não tinham, necessariamente, uma metodologia específica e nem entendiam o objetivo dos adultos que procuravam as aulas. Eu tentava adaptar o programa de aula de ballet infantil que eu tinha, mas não entendia muito o porquê os adultos não conseguiam desenvolver os passos daquela forma. Em 2014, comecei a dar aulas para uma turma de iniciantes e resolvi me estruturar do zero, encontrando a melhor forma de ensinar para pessoas tão diversas, que não necessariamente tivessem tido qualquer experiência anterior com dança.

JR: Você criou um perfil no Instagram voltado especialmente para o ballet adulto. A motivação foi essa dificuldade de adaptação?

JM: A criação do @demiplie_videos teve o objetivo de ajudar minhas alunas a memorizarem os nomes dos passos e também para divulgar ainda mais o ballet adulto. Porque até as minhas amigas de profissão não entendiam muito bem o conceito de “ballet adulto”, achavam que era a mesma aula de crianças, só que para pessoas mais velhas. Mas é o contrário, o ballet adulto é uma aula super aeróbica, que exige um trabalho muscular intenso e tem uma dinâmica bem vigorosa.

JR: Qual a maior diferença entre a aula para crianças e para adultos?

JM: A criança usa mais a intuição para seguir as sequências e os movimentos, enquanto os adultos tendem a querer racionalizar tudo. Por isso, da mesma forma que agir mais intuitivamente é libertador, as crianças tem uma maior dificuldade com a consciência corporal, enquanto os adultos acabam se travando muito apesar de uma maior consciência. Tem muito movimento que é orgânico e quando se racionaliza tudo acaba travando o próprio movimento.

JR: Qualquer pessoa pode fazer ballet?

JM: Sim, não há contraindicações. Claro que, para se profissionalizar, é indicado começar mais cedo, por volta de 9 ou 10 anos, mas nada é regra, tenho uma aluna que começou aos 14 anos. O importante é haver muita dedicação, disponibilidade e inteligência emocional. Se você quer praticar por esporte ou hobby, a idade não importa! Procure uma escola que tenha opções de turma que sejam compatíveis com o nível de cada aluno.

JR: Existe um corpo certo para o ballet?

JM: Para quem quer fazer o ballet apenas como atividade física, sem pretensão de se profissionalizar, todo corpo é perfeito para dançar, basta querer.

JR: Mesmo quem nunca dançou?

JM: Claro, por que não? O importante é procurar uma escola que tenha um trabalho sério de ballet adulto, com turmas de iniciantes que partam do básico e que tenham uma aula voltada para o fortalecimento da musculatura. Não adianta começar a ensinar passos de difícil execução se o corpo do aluno não está preparado para receber aquele estímulo, é preciso cuidar antes para aprender a técnica depois.

JR: Para quem quer uma atividade física que ajude no emagrecimento, o ballet é uma boa?

JM: Claro! O ballet é uma atividade que modela o corpo, ele define a musculatura sem dar volume. Dessa forma, acaba afinando a musculatura da região do quadril, da cintura e das coxas, além de dar muita resistência. Mas, acho que os maiores ganhos da prática do ballet para adultos são a maior consciência corporal, a postura e a concentração, já que, como exige muita atenção para execução dos passos, a aula vira quase uma meditação, onde os problemas e preocupações precisam ficar do lado de fora da sala.

JR: E a sapatilha de ponta? Quando ela entra na aula?

JM: Isso depende muito de cada escola. Eu prefiro dar a aula de ponta separada para que os alunos possam escolher se querem ou não fazer esse tipo de exercício. Tenho alunos adultos que não curtem e se frustram ao tentar fazer a aula e até alguns que já fizeram quando crianças e não gostariam de repetir a experiência.

JR: Qualquer um pode usar a sapatilha de ponta?

JM: Existem uma série de fatores que determinam se cada um pode ou não subir na ponta, o principal é o muscular. A sapatilha de ponta exige uma sobrecarga enorme na articulação e pode causar lesões sérias, como rompimento de tendão, ligamento, joanete, esporão e tendinite, por isso a cautela precisa ser redobrada. De modo geral, é recomendado que se faça pelo menos dois anos de ballet antes de se arriscar na ponta, com aulas regulares e uma boa frequência que tenha dado estrutura suficiente para este novo passo na técnica.

Depois de descobrir que o ballet é para todos, vai dizer que não deu uma vontade de experimentar?

A Juliana atualmente dá aulas no Centro de Movimento Deborah Colker, na Glória e na Gávea. Acompanhe o @demiplie_videos e saiba mais sobre esse universo encantador!